Alves Redol - 100 anos
/ Manel Bonitinho - 100 velas
Nasceu em 29 de Dezembro de 1911,
o escritor vilafranquense que viria a marcar definitivamente a introdução de
uma nova corrente literária, em Portugal: o Neo-Realismo. Embora curta, a sua
vida foi intensamente preenchida pela força do seu caráter e entrega
incondicional às raízes do povo. Morreu em 29 de Novembro de 1969.
Dotado de uma sensibilidade e
curiosidade invulgares, cedo se dedicou à escrita (com apenas 15 anos),
redigindo artigos para o semanário regional “Vida Ribatejana”. Atento aos
problemas e desigualdades sociais, embrenha-se cada vez mais em atividades
diversas, sempre com o intuito de conhecer, divulgar e denunciar o sofrimento
de muitos, por via das suas condições de vida. Torna-se ativista político,
anti-salazarista, é perseguido e preso pela polícia política.
A sua produção literária é muito
vasta e diversificada, tendo-se dedicado aos estudos etnográficos, ao romance,
ao teatro, ao conto e até à literatura infantil. Contudo, é a partir de 1938,
data em que publica Glória - Uma Aldeia
do Ribatejo que o seu desígnio de se dedicar definitivamente à literatura
se fixa. Permaneceu na Glória por largos meses, em 1936, onde encontrou matéria
fértil na sabedoria popular e singularidade daquela comunidade, tendo-se
apaixonado de vez pelas coisas do povo, ao mesmo tempo que preenchia a sua alma
inquieta de artista: “Em todos os meus livros há sempre uma busca e há sempre
uma experiência. Tenho uma visão do mundo, como é natural num homem que também
é escritor. Conheço, por outro lado, o nosso país e muitos dos seus problemas
essenciais, convivo com outros homens tanto quanto posso, fazendo uma
experiência ativa. Quero dizer com isto que não espero exclusivamente que a
vida me entregue os seus frutos…”
É aqui que se encaixa a história
do ti Manel Bonitinho. Nasceu na Glória, também em Dezembro, “no dia 27, uma
quarta feira, ó pantar da mannhã, assim dizia a minha mãe”. Não é uma figura
célebre como Alves Redol, mas está ainda entre nós (faz 100 anos) para nos
deliciar com as histórias que também encantaram o autor. O ti Manel Bonitinho,
homem de fraca estatura, deve a sua alcunha ao facto de, em jovem, ser um belo
rapaz, como atestam as fotografias. A sua estatura em nada corresponde ao
grande homem que efetivamente foi. Cingeleiro de profissão, viveu todas as
agruras de um tempo difícil, numa terra dura e pedregosa, sempre a reclamar
pela charrua. Hoje, com 100 anos, ainda vive em sua casa (assistido obviamente
pela família), mas não foi há muitos anos que deixou de ir de bicicleta, da
Glória a Salvaterra, tratar dos seus próprios assuntos, nas Finanças ou em
qualquer outro lugar. De memória prodigiosa, recorda muito mais facilmente os
tempos de seus avós do que propriamente a vida dos filhos pequenos (talvez
porque a natureza humana nos preserve do sofrimento e em seu lugar faz vir ao
de cima o tempo de outros afetos). Mostrou-se um extraordinário colaborador e
grande conversador, na altura em que nos fizemos ao caminho para a produção de Glória, Cem Anos a Preto e Branco, pois
foram muitas as histórias que nos contou, as dúvidas que esclareceu e vieram de
sua casa algumas das fotografias presentes na obra.
Não sendo possível prestar-lhe
outra homenagem, aqui fica o registo da nossa lembrança, em jeito de parabéns e
do respeito que lhe devemos (símbolo de todos os outros que aqui não
referimos).
Texto:. Rita Pote
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