Prendas
de Namorados
De entre os hábitos caraterísticos que se podiam observar
nos glorianos, há alguns que, pela sua singularidade, merecem ser estudados e
divulgados. É o caso das prendas que os namorados trocavam entre si, como forma
simbólica de selar o seu compromisso. A época a que nos referimos (finais do
século XIX, até às décadas de 60, 70 do século XX) pode parecer demasiado
recente, mas, se tivermos em conta a lenta evolução que esta sociedade sofreu
até há pouco tempo, apercebemo-nos de que a influência da industrialização,
nesta altura, em determinadas áreas da vida, era mínima e, por conseguinte,
esses costumes permaneceram inalteráveis, desde tempos mais remotos.
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Assim, no momento em que se consideravam “um para o
outro”, a rapariga confecionava um conjunto de peças de uso “vulgar” com que
brindava o namorado: o taleigo do farnel, a bolsa do relógio, a carteira, a
charteira, o lenço de assoar e os lenços para usar no traje. O curioso é que
estas peças de vulgar nada tinham. Qualquer uma delas era extraordinariamente
embelezada com motivos a ponto de cruz, como, por exemplo, coroas (o pinto, a
coroa dos corações, a coroa das estrelas, etc.), ramos (da sobreira torta, das
bonecas, das pombas, etc.), o navio, cercaduras, estrelas e letras que
representavam as iniciais dos nomes dele e dela, bem como as dos “camaradas” de
ambos. Os motivos mais antigos marcavam-se a duas cores – azul e encarnado ou
verde e encarnado. Mais tarde, a partir da década de 40, verifica-se algum
progresso em relação às cores e aos motivos. Desta época, existem muitos
exemplares, marcados a cor-de-rosa e verde, cor-de-rosa e azul, cor-de-laranja
e cor-de- lírio, amarelo e cor-de-rosa, etc. Já surgem rosas, cravos, cravinas
e muitas iniciais, artisticamente combinadas. Nesta altura, estes lencinhos são
tão profusamente decorados, que quase não resta pano em branco.
Quando e como eram usados?
O “lenço de assoar” andava escondido e usava-se todos os
dias. Os de usar no traje eram cuidadosamente dobrados em quatro pontas ou em
forma de coração, evidenciando os biquinhos que rematavam a borda do lenço e
usavam-se à frente, na cinta ou nos bolsos. Semelhantes eram os das raparigas,
usados, principalmente, ao domingo, também na cinta ou na cintura, ligeiramente
à esquerda ou à direita.
Resta referir o lencinho “à pacha”, usado no dia de ir
“às sortes”. Este era um lencinho mais pequeno, também dobrado em quatro pontas
e colocado no bolso esquerdo do colete, por baixo da bolsa de relógio.
Normalmente, os motivos eram marcados a dois fios, o que tornava a peça mais
preciosa. Este pormenor era bastante significativo, pois, quanto mais prendada
fosse a rapariga, (e isso examinava-se pelos seus dotes de costura) mais
merecedora seria do namorado e da sua família.
Mais tarde, e mostrando também as suas habilidades de
artesão, ele confeccionava, pacientemente, algumas miniaturas (cestinhas,
cadeirinhas, bolotas), feitas de pau de murtinheira, (com a ajuda de uma
simples navalha), que ela usava ao peito, fazendo conjunto com um raminho de
manjerico e a pequena moldura com o retrato dele.
Estes motivos talvez possuíssem, em si, algum simbolismo,
já que eram sempre estes e não outros. Provavelmente, seriam uma espécie de
promessa de futura vida conjugal, pois a cesta e a cadeira são objetos
domésticos, de uso quotidiano, e a bolota é símbolo de alimento.
Texto: Rita Cachulo Pote
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